Publicar uma HQ no Brasil já é uma missão desafiadora. Agora, imagine idealizar, escrever, coordenar uma equipe de ilustradores, buscar financiamento público, supervisionar o design e ainda garantir que o livro chegue às mãos de estudantes da rede pública. Foi exatamente isso que o escritor e professor Gabriel Godinho Sampaio realizou com Tecnomaquia: Robôs vs Androides, sua mais recente obra que une literatura, arte gráfica e crítica social.
Com 128 páginas e uma estrutura híbrida entre prosa e quadrinhos, Tecnomaquia foi contemplada pelo Edital 05/2024 da Prefeitura de São Vicente, por meio da Política Nacional Aldir Blanc. O projeto será distribuído gratuitamente a escolas municipais, permitindo que centenas de jovens tenham acesso a uma produção autoral de ficção científica nacional, algo ainda raro no circuito educacional.
O caminho até a publicação, no entanto, foi repleto de aprendizados. “Foi um desafio enorme. Às vezes, o resultado visual da história é diferente do que imaginamos, mas isso é uma das belezas da criação coletiva. Aprendi que, como diretor, é preciso ter generosidade criativa para não tolher a liberdade dos artistas, e sim potencializar seus talentos”, conta Gabriel.
A equipe de criação reuniu artistas como Aline Martins (responsável pelos desenhos e character design), Salviano Borges (colorização e capas) e Ryan Nascimento (ilustrações de um dos capítulos). Gabriel atuou como roteirista e diretor criativo, fazendo a ponte entre a narrativa e a estética final.
Sobre sua primeira experiência com financiamento via edital, ele é direto: “No começo foi caótico, porque eu não dominava a linguagem técnica dos editais. Mas ser aprovado de primeira me mostrou o quanto esses mecanismos são essenciais para democratizar a produção cultural. Hoje entendo que publicar de forma independente não significa trabalhar sozinho, e sim construir um ecossistema próprio, com parceiros éticos, liberdade criativa e profissionalismo.”
O autor ainda reforça que o maior aprendizado de todo o processo foi entender que o mercado editorial pode ser reinventado, principalmente por quem escreve fora dos grandes centros e quer dialogar com novos públicos. “A auto-publicação, quando feita com responsabilidade, é um caminho viável. Só precisamos de informação, tempo e redes de apoio.”
Tecnomaquia, assim, não é apenas uma obra literária: é um exemplo de gestão cultural independente, um manifesto sobre a importância da coletividade na criação artística e um convite para que mais autores encontrem seus caminhos fora das grandes editoras.
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